Por Raul Carmanini, Head de Operações e TI na Otto Hx
Em um mundo ideal, a medicina se concentraria exclusivamente no paciente, onde cada decisão, diagnóstico e tratamento seria feito com a mais pura das intenções e o mais claro dos focos.
No entanto, na prática, médicos e equipes assistenciais frequentemente se veem emaranhados em um labirinto de sistemas diferentes, engessados e burocráticos, que acabam por desviar sua atenção do que realmente importa: o cuidado ao paciente.
As “dores” dos médicos com a resistência em usar vários sistemas diferentes não são apenas um incômodo menor; são barreiras reais que impactam na eficiência do atendimento e, por consequência, na satisfação do paciente.
Isso se deve, em grande parte, pela insatisfação à usabilidade e experiência do usuário (UX) desses sistemas. Em um cenário ideal, os sistemas de saúde deveriam ser intuitivos, fluidos e personalizáveis, permitindo que as equipes de saúde dedicassem mais tempo ao que são treinados para fazer: cuidar dos pacientes.
A Importância da Usabilidade e Experiência do Usuário (UX)
Na minha opinião, a importância da usabilidade e da experiência do usuário (UX) nos sistemas de saúde transcende a mera questão de conforto ou de preferências individuais. Elas constituem fundamentos estratégicos que têm impacto direto na capacidade e na qualidade dos cuidados prestados aos pacientes.
Em um ambiente tão crítico quanto o da saúde, onde cada segundo e cada ação podem ter consequências significativas, uma interface complexa, que demanda muitos cliques ou telas, ou processos de trabalho burocráticos (excesso de informações), não só desperdiçam um tempo precioso mas também elevam o risco de erros.
Tais erros, por mínimos que sejam, são absolutamente inaceitáveis, considerando que a saúde, o bem-estar e a vida dos pacientes estão em jogo.
A usabilidade e a experiência do usuário são conceitos que vão além da simples navegação por um software. Estes requisitos abrangem a eficiência com que as informações podem ser acessadas e compreendidas, a facilidade com que as tarefas podem ser executadas, e o quão intuitiva é a interação geral com o sistema.
Quando os sistemas de saúde são desenvolvidos com esses princípios em mente, eles se tornam poderosos aliados dos profissionais de saúde, permitindo que estes dediquem menos tempo ao manuseio de ferramentas complicadas e mais tempo ao que realmente importa: o cuidado direto ao paciente.
A redução da carga administrativa, graças a sistemas mais amigáveis e intuitivos, possibilita que médicos e equipes assistenciais não apenas concentrem sua atenção e energia nos pacientes, mas também otimizem a qualidade do atendimento.
Isso não só potencializa os desfechos clínicos favoráveis, mas também contribui significativamente para a satisfação dos pacientes e profissionais.
Um sistema de saúde eficaz é aquele que suporta os seus usuários, ao invés de apresentar-se como mais um obstáculo a ser superado.
Para exemplificar, consideremos a implementação de prontuários eletrônicos que são projetados com a UX em mente. Tais sistemas podem reduzir drasticamente o tempo necessário para acessar informações críticas do paciente, facilitar o registro de novas informações de maneira rápida e precisa, e até mesmo integrar-se com outros sistemas para fornecer uma visão holística do paciente, o que é essencial para um diagnóstico preciso e um plano de tratamento eficaz.
Além disso, sistemas com alta usabilidade podem incorporar funcionalidades como lembretes automáticos para a equipe de saúde, sobre procedimentos a serem realizados ou medicamentos a serem administrados, reduzindo o risco de omissão ou duplicidade de tratamentos.
Este nível de suporte não apenas melhora a qualidade do atendimento mas também contribui para a eficácia do trabalho dos profissionais de saúde, que podem confiar no sistema para auxiliá-los em suas tarefas diárias.
Inovação e Tecnologia: Aliados na Melhoria do Atendimento
A inovação e a tecnologia desempenham um papel crucial no enfrentamento dos obstáculos criados pelos sistemas de saúde tradicionais.
A introdução de novas soluções, como prontuários eletrônicos integrados, plataformas de telemedicina e sistemas de suporte à decisão clínica, estão na vanguarda da transformação da prestação de cuidados médicos.
Essas inovações prometem não apenas elevar a qualidade do atendimento, mas também garantem que este seja mais centrado no paciente, refletindo uma mudança significativa na abordagem do cuidado.
No entanto, para que essa transformação seja efetiva, é fundamental que as tecnologias implementadas não se limitem apenas do ponto de vista técnico.
Elas devem ser, acima de tudo, profundamente humanizadas, projetadas desde o início para atender às necessidades reais e cotidianas dos profissionais de saúde e de seus pacientes.
Isso implica o desenvolvimento de interfaces que sejam ao mesmo tempo intuitivas e informativas, processos que simplifiquem as rotinas médicas ao invés de complicá-las e soluções que sejam flexíveis o suficiente para se adaptarem às diversas realidades e necessidades encontradas nas diferentes esferas da saúde.
A Necessidade de Personalização e Flexibilidade
Em um campo tão diversificado quanto a saúde, onde cada paciente é único e cada caso apresenta seus próprios desafios, a capacidade de personalizar e adaptar as ferramentas tecnológicas é indispensável.
Sistemas de saúde que permitem a personalização de workflows, a adaptação de interfaces conforme as preferências do usuário e a integração fluida com outras plataformas e dispositivos podem revolucionar a maneira como o cuidado é organizado e entregue.
Ampliando o Alcance através da Telemedicina
A telemedicina, por exemplo, tem mostrado ser uma força transformadora, especialmente em áreas remotas e carentes de recursos. Ao possibilitar consultas, diagnósticos e acompanhamentos à distância, essa tecnologia não apenas expande o acesso ao atendimento médico, mas também permite que os profissionais de saúde otimizem seu tempo, atendendo a um maior número de pacientes com eficiência e eficácia.
Suporte à Decisão Clínica com Inteligência Artificial
Da mesma forma, os sistemas de suporte à decisão clínica, especialmente aqueles alimentados por inteligência artificial, representam um avanço significativo na capacidade dos médicos de realizar diagnósticos precisos e de escolher os tratamentos mais adequados.
Ao fornecer análises detalhadas e recomendações baseadas em vastas quantidades de dados e pesquisas médicas, essas ferramentas apoiam os profissionais de saúde na prestação de cuidados baseados em evidências, ao mesmo tempo em que reduzem a carga cognitiva e o risco de erro humano.
O Caminho à Frente
Para realmente beneficiar os profissionais de saúde e os pacientes, é essencial que as soluções tecnológicas sejam desenvolvidas em estreita colaboração com aqueles que estarão na linha de frente de seu uso.
Médicos, enfermeiros e demais membros das equipes assistenciais devem ser ouvidos desde as etapas iniciais da implantação de qualquer nova ferramenta tecnológica, garantindo que suas experiências, insights e necessidades sejam integralmente considerados.
Ao priorizar a usabilidade e a experiência do usuário e abraçar a inovação e a tecnologia como ferramentas estratégicas, podemos avançar em direção a um sistema de saúde que verdadeiramente coloca o paciente no centro de tudo.
Isso não é apenas uma questão de melhorar os sistemas existentes; é uma questão de reimaginar o que é possível na medicina moderna, para que cada decisão e cada ação possam ser tomadas com a certeza de que o bem-estar do paciente é a principal prioridade.
Em suma, ao enfrentarmos esses desafios juntos, com um olhar crítico para as necessidades dos profissionais e uma mão firme no leme da inovação, podemos garantir que o futuro da medicina será mais humano, eficaz e transformador.
E, no coração dessa jornada, estará sempre o compromisso da Otto Hx com o cuidado e a compaixão pelos pacientes, guiando cada passo que damos em direção a um atendimento de saúde melhor e mais integrado.