Flaviano Feu Ventorim, VP da CMB: “Precisamos ter um olhar atento para os softwares hospitalares”

Em entrevista, o gestor considera que são poucos os hospitais com softwares hospitalares bem implementados.


Muito se fala da modernização da Saúde brasileira e como a tecnologia e o uso de softwares hospitalares desempenham importantes pilares para esse feito. Grandes instituições privadas estão inseridas nesse cenário, porém essa realidade é outra quando se trata de hospitais de pequeno porte e algumas Santas Casas menores, por exemplo.

Mas, antes de falar sobre o porquê desse diferente contexto e a urgência de gestores de Santas Casas olharem com mais atenção às tecnologias, vale mostrar os números, já que as Santas Casas representam a maior rede hospitalar do país.  

Os dados abaixo retratam a importância desses players na saúde pública:

  • São 2.172 hospitais sem fins lucrativos em todo o Brasil, dos quais 1.704 atendem o SUS;
  • Para 960 municípios, essas instituições são a única porta de atendimento à saúde;
  • Essas entidades respondem por 51% de toda assistência SUS, sendo que nos atendimentos de alta complexidade esse indicador é de 65% dos atendimentos;
  • São cerca de 1 milhão de profissionais de saúde atuando em Santas Casas e hospitais filantrópicos.


Mesmo com tamanha abrangência e papel estratégico que as Santas Casas e hospitais filantrópicos desempenham na saúde, essas instituições enfrentam inúmeros desafios para atender diariamente milhares de pacientes.

Um deles é a implementação da tecnologia em sua gestão, seja por falta de recursos ou mesmo por uma visão ainda míope de gestores quanto ao investimento nessas soluções e softwares hospitalares, face à grande demanda de necessidades de investimento.

Sobre esse cenário, a Otto hx conversou com Flaviano Feu Ventorim, diretor do Hospital Nossa Senhora das Graças – um dos maiores complexos hospitalares de Curitiba (PR) –  e VP da Confederação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Filantrópicos (CMB).

Ventorim é formado em Administração Hospitalar pelo Centro Universitário São Camilo, presidiu por 6 anos a Federação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos do Paraná (Femipa) e atualmente preside o Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Paraná (Sindipar) e a Associação dos Hospitais do Paraná (AHOPAR).


1- Como o senhor vê a transformação do setor da saúde, atualmente, e como a tecnologia está nesse contexto?

A tecnologia é fundamental para uma boa gestão. Afinal é um forte auxiliar para a tomada de decisão e, é isso que precisamos entregar para os hospitais.

Entretanto, temos que relevar que há vários ‘Brasis’ dentro do Brasil. Primeiro é importante lembrar que o filantrópico é um apoio ao SUS. Ou seja, as Santas Casas e filantrópicos vieram como uma solução da sociedade para atuar onde o Estado não consegue.

Nesse sentido, ainda enfrentamos o já tão conhecido e antigo problema de financiamento, porque o SUS não remunera adequadamente os hospitais.

Temos também falhas de estrutura de política de saúde, ou seja, há instituição que não era para ser mais hospital, ora porque não tem escala, ora porque não tem estrutura.

Com isso, há a urgente necessidade de reorganizar as redes de saúde do país e precisamos tirar interferência política das políticas de saúde. Para tanto, precisamos alinhar interesses do Estado e da nação.

Quanto à tecnologia, sabemos como ela é fundamental para fomentar a informação e a automação, proporcionando redução de custos, agilidade de processos e, consequentemente, melhoria da própria assistência.

Inclusive, a tecnologia e os softwares hospitalares colaboram para uma visão mais ampla, sistêmica e organizada do perfil epidemiológico, assistencial e da estrutura disponível.

E como tudo isso funciona na prática? Por um lado, temos uma facilidade de embarcar a tecnologia e os softwares hospitalares em instituições, mas, por outro, encontramos uma má organização de recurso. E isso refere-se a forma como ele precisa ser empregado, investido, pensando em transformação digital.

Isso quer dizer que eu não preciso ter tecnologia de ponta em todos os lugares, mas onde é necessário existir para que possamos efetivar o recurso existente.


2- O senhor disse que temos vários ‘Brasis’ dentro de um Brasil. E quando olhamos para o universo das Santas Casas, temos instituições referências nacionais, mas, isso é a exceção.  Trazendo esse ponto para a tecnologia, você acredita que ainda temos gestores que acreditam que o investimento em softwares hospitalares é um gasto e não parte do negócio?

Temos muitos que pensam assim, mas, isso também é em função do pouco recurso, o que acaba sendo uma visão míope.

Imagine a seguinte situação: eu estou num barco e ele está pegando fogo. Minha primeira reação de sobrevivência é jogar água para dentro para apagar, mas eu tenho que ter cuidado para não afundar.

Há um desespero muito grande por parte dos gestores de aplicar o recurso em dívidas e, principalmente, na própria assistência e, com isso, não é investido em inteligência, tecnologia e melhores processos.

Também temos que relevar a diferença entre as próprias Santas Casas, aquelas localizadas em grandes capitais, que tem escala de produção, e as outras de cidades menores.

Por isso, mais uma vez, a necessidade de fazer um planejamento estratégico alinhado entre os estados e as entidades filantrópicas, porque se eu sou o Estado, eu financio 80% do seu recurso da Santa Casa. O mínimo seria construir um planejamento estratégico em conjunto. Em outras palavras, é  deixar de fazer política para fazer gestão. E como se faz gestão hoje? Com tecnologia e informação!


3- E quais têm sido os principais desafios em relação aos investimentos em tecnologia nas Santas Casas?

A falta de dinheiro é consequência de uma política de planejamento e investimento. Uma vez que eu defino a minha política de investimento, eu defino como que eu vou gastar. Com a tecnologia, eu posso ter uma rede mais estruturada e atender mais pacientes, direcioná-los de forma correta e regular melhor o atendimento.

Para gerir tudo isso de forma rápida e estruturada é necessário, novamente, a tecnologia e o uso de softwares hospitalares.

Outro problema que vejo é que cada hospital quer ter o seu software hospitalar. Até aí, tudo bem… Mas, esses sistemas têm que se conversar, ou seja, precisam de integração e interoperabilidade. Isso é fundamental para acelerar a dinâmica do atendimento.


4- Nas Santas Casas, quais são os gargalos que os gestores encontram diariamente pela falta de viabilização de recursos e tecnologia? Como isso impacta os beneficiários?

Hoje, o melhor exemplo são as filas do SUS, que têm um acompanhamento pouco organizado, seja por parte das Secretarias de Saúde ou até mesmo dentro dos hospitais.

Não conseguimos, muitas vezes, enxergar a jornada do paciente, por exemplo. Quando isso acontece, eu posso ter um paciente esperando por 20 dias e outro por 60 dias para resolver o mesmo problema. Isso se dá por vários motivos, como não acertar uma agenda de exame.

Vale ressaltar que temos uma rede complexa e quando movemos um paciente para outra cidade, temos diversas questões envolvidas, como o tempo do laudo, do exame, do transporte, etc. Essa jornada poderia ser muito melhor assistida com o uso de soluções tecnológicas.

Para se ter uma ideia, quando falamos de escala de exames agendados em uma cidade, como Curitiba, por exemplo, temos uma taxa de 20 a 22% de absenteísmo.

Nesses casos, a tecnologia poderia ser utilizada para facilitar a comunicação, alinhar o processo onde o executor, a Secretaria de Saúde e clientes ficassem conectados.

Medidas simples, como lembretes, acesso para avisar problemas e cancelar, follow up…Tudo de forma simples e fácil, de forma digital.


5- Qual é a sua opinião em relação aos fornecedores de tecnologia tendo em vista que muitas Health Techs estão surgindo? Isso ajuda os grandes players a se reinventarem ou há, ainda, muita resistência?

Temos sistemas ERPs muito estruturados, mas, extremamente mal implementados. São poucos hospitais que têm uma ferramenta que seja boa e bem incorporada na instituição, em sua cultura organizacional, inclusive.

Vejo muitas coisas positivas aparecendo para complementar, como, por exemplo, o BIS (ou Índice Bispectral), que é  uma solução responsável pelo monitoramento cerebral, que faz análise dos efeitos da anestesia em um paciente, indicando, inclusive, o seu nível de consciência.

Há ainda softwares muito interessantes para acompanhar a jornada do paciente, outros eficazes para atuar com contas hospitalares e recursos de glosas, além das health techs, que chegam ao mercado com um novo olhar, dando suporte também, aos sistemas de ERPs mais robustos do setor.

Mas, pensando como usuário, precisamos de coisas mais leves, simples. Por isso, temos que pensar em tecnologia como uma forma de minimizar processos, encurtar distâncias e melhorar a comunicação, por exemplo, entre secretarias, hospitais e operadoras.


6- Qual o seu conselho para os gestores de Santas Casas mudar o olhar para a tecnologia?

Sempre acreditei muito em tecnologia e foquei nisso em todos os meus trabalhos.

Temos que ter um olhar para tecnologia. Precisamos sair do foco pronto-socorro/emergência e ter uma amplitude maior, ou seja, expandir o alcance por meio de soluções digitais e softwares hospitalares. Afinal, eles abrem possibilidades para a obtenção de dados, informações que corroboram e potencializam as tomadas de decisão. Para isso, é preciso investimento ao lado de uma revisão de processos internos.

E junto com tudo isso, também, é preciso integrar (para que sistemas conversem) e interoperar (falem a mesma língua), pois só assim será possível uma operação mais fluída, mais dinâmica, mais assertiva e, que venha de encontro a melhor experiência do paciente.


Incentivo para a transformação digital no setor filantrópico

Os maiores hospitais privados do país são filantrópicos e/ou sem fins lucrativos. Nesse segmento, há uma demanda gigantesca por novos investimentos.

Portanto, entender que o mercado de assistência à saúde no Brasil é complexo e com forte necessidade de apoio dos fornecedores e envolvimento governamental para aplicar a digitalização nessas instituições, é fundamental. Afinal, é preciso garantir redução de custos, atendimento às exigências regulatórias, tecnologia e inovação. Tudo isso para um assistencialismo mais seguro e de maior qualidade.

Pensando neste cenário, a Otto hx estudou o setor com o objetivo de conhecer melhor a realidade das Santas Casas, seus desafios… para ajudá-las a visualizar as oportunidades por meio dos dados.

O propósito da Otto hx é tornar a gestão das instituições de saúde mais eficiente e com foco na experiência do paciente, além de tornar as entregas de implantação de softwares mais ágeis, flexíveis e acessíveis, para de fato, apoiar e promover a transformação digital no setor.

A Otto hx é uma spin-off do Grupo Benner, um dos principais players de tecnologia do país.

A Benner é referência nacional em sistemas de Gestão e BPO. Suas plataformas administram 2/3 das vidas de empresas de autogestão de saúde e mais de 14 milhões de vidas estão sob os cuidados de seus sistemas. São 1500 colaboradores dedicados e espalhados pelas principais capitais e, não menos importante, comprometidos com a missão: a de “Inovar para simplificar negócios”.

A companhia possui hoje um ecossistema de soluções, onde todos os seus processos são atendidos via um único fornecedor! Conheça hoje mesmo a proposta exclusiva para informatização das Santas Casas no país. Fale com especialistas!

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